Fomos ao Príncipe em junho de 2018, para fazermos um diagnóstico que nos permitiu identificar as ações a desenvolver. Concluímos que o nosso trabalho como organização faz todo o sentido no contexto social e económico da Ilha do Príncipe.
O desafio de intervenção social na Ilha do Príncipe surgiu-nos pela voz do Frei Fernando Ventura, responsável pelo Banco de Leite de S. Tomé e conhecedor das muitas carências em que se encontra a obra das Irmãs Servas da Sagrada Família.
O principal objectivo desta viagem foi acompanhar o dia-a-dia das Irmãs Eufrosina Medeiros e Maria da Conceição, que há 30 anos desenvolvem trabalho de apoio social na Ilha. As Irmãs têm a seu cargo um lar de idosos, e lar de dia, fornecem refeições diárias a famílias carenciadas e prestam cuidados de saúde primários. A pedido das Irmãs, levámos 25kg de medicamentos, que estavam em falta e são uma das necessidades na ilha.
Apoiados pelo Bispo D. Manuel António Mendes dos Santos, que gentilmente nos cedeu alojamento na casa da Paróquia, permanecemos na ilha durante 10 dias. O nosso trabalho consistiu no levantamento das características socioeconómicas do Príncipe, através de contactos com organizações e atores locais, relevantes na comunidade.
Os problemas de desenvolvimento de São Tomé e Príncipe, independentemente de serem de natureza estrutural, são também os que lhe advêm do facto de ser um País pequeno e insular. Confronta-se com constrangimentos vários à sua economia, e faz com que os recursos sejam escassos e pouco variados, tem uma forte componente de importação. O uso de transportes aéreos e marítimos para a importação e exportação traduz-se em preços unitários relativamente elevados. Estas características de um Pequeno Estado Insular faz com que haja uma grande dependência do financiamento externo.
O problema dos recursos humanos é um dos mais difíceis desafios a ultrapassar, embora possua uma taxa de alfabetização acima da média em relação a outros países Africanos, a sua população tem falta de formação adequada o que leva a uma fraca qualificação profissional. São vários os fatores que contribuem para este cenário. Carências nas infraestruturas de ensino superior e profissional, meios técnicos e materiais, turmas sobrelotadas e professores com formação profissional desadequada, facilitismo escolar e abandono escolar no ensino secundário.
A Mulher desempenha um papel importante na sociedade santomense. Responsável pelo trabalho doméstico, ela assume a gestão da casa, dos filhos e providencia algum, ou todo o sustento económico. Nesta estrutura familiar, numa sociedade masculinizada onde as mulheres e as crianças são remetidas a uma posição inferior, a violência doméstica tem terreno fértil. A que se junta também o desemprego ou inatividade e o álcool. A gravidez precoce é um problema sério e fortemente penalizador para a sociedade santomense. Muitas das jovens que engravidam são menores de idade, não tendo ainda muitas delas completado 14 anos, pelo que não estão de todo capazes de assumir a maternidade de forma responsável. O progenitor, muitas vezes também menor, tem tendência a não assumir paternidade, abandonando a mãe e a criança. Como consequência, muitas destas crianças são amparadas pelas avós, que têm um aumento indesejado das suas famílias.
Fazendo também parte do enquadramento anterior, adicionando a pobreza e privações a vários níveis nos direitos fundamentais para o seu desenvolvimento feliz e pleno, a situação das crianças em STP é muito difícil. Ser criança não é uma condição valorizada nem protegida. Com uma população maioritariamente em idade escolar, como forma de contribuição para o rendimento familiar muitas são levadas a abandonar a escola. A exploração económica da criança através do trabalho infantil, é prejudicial para a sua saúde e desenvolvimento físico, emocional, intelectual, social e moral. Devido à fraca qualidade do ensino as crianças tem graves lacunas em cálculo e escrita, e os seus tempos livres não são preenchidos com atividades adequadas ao seu desenvolvimento.
Por fim a velhice, que tem desafios não só para o indivíduo como para a sociedade. Os idosos tendem a enfrentar maior instabilidade financeira, problemas de saúde ou incapacidades que retiram a autonomia. Em África, a maioria das pessoas entra na velhice após uma vida inteira de dificuldades associadas à pobreza, má nutrição, falta de assistência médica e anos de trabalho físico muito pesado. Os idosos são outro grupo social de risco. As dinâmicas familiares acima referidas, nas quais estes fazem parte, refletem-se também numa altura da vida em que necessitam apoio da família. Inevitavelmente muitos são abandonados à sua sorte.